CARNAVAL DE SÃO NICOLAU 2025
Excetuando algumas trocas amistosas de publicações informais no Facebook por parte dos foliões ribeira-bravenses, intituladas pela rivalidade—paralela à irmandade—entre adeptos (sobretudo emigrantes que acompanham o evento de longe), quase não se ouviu falar do Carnaval de Ribeira Brava este ano.
Não existem mais emissões em direto nas televisões, as reportagens tornaram-se escassas, e a festa, que outrora vibrava também pelas lentes das emissoras, parece ter ficado restrita ao olhar dos que ali estavam e ao esforço incansável dos ativistas que percorrem as ruelas de câmara em punho.
A Televisão de Cabo Verde (TCV) que no ano passado sublinhou a palavra atraso na manchete referente ao nosso Carnaval, foi quase unanimemente apedrejada pelos sanicolaenses (como se tivesse proferido alguma mentira), voltou neste 2025 com um título mais passivo e brando, amedrontada pelo ‘cancelamento’.
A mídia esqueceu-se da ilha de Chiquinho, berço da intelectualidade cabo-verdiana. Ou não?
Antes de apontarmos o abandono, será que não somos nós que deixamos de fazer por merecer? Até os próprios nativos, outrora entusiastas, agora hesitam em apreciar este espetáculo social. Sete horas da noite, repentinamente, transformaram-se às sete da manhã seguinte. Porquê?
É a pergunta que todos colocam. Depois de tantos anos repetindo o mesmo erro, não seria tempo de corrigi-lo? "O tempo é curto", dizem. Não seria possível começar mais cedo? Apenas questiona-se.
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Quem sai de zonas mais periféricas para visitar Stancha iluminada, volta para casa sem ver uma lantejoula dos trajes ou sentir o cheiro a tinta fresca dos andores artesanais. Mais ainda, quem já vive na vila depara-se com uma situação constrangedora a que nem as autoridades fazem frente.
Não há justificação para que das 4 às 7 horas da madrugada, um idoso ou uma criança em casa não possam dormir por causa do trio elétrico. Afinal se fosse eu, ou o meu vizinho, seríamos instantaneamente multados e repreendidos. Somos apaixonados pelo Carnaval e tamanha seria a tristeza, se por alguma eventualidade, não o pudéssemos ter e ver como já estamos acostumados. Mas as coisas como devem ser, a tempo e horas.
Alguns respondem com desdém: “Vão lá vocês fazer o tal trabalho que nunca termina a horas!”;
“O Carnaval é de quem desfila, ‘tont ta dome quem que ka oia’.... Triste. Tristíssimo, aliás. O que seria de um Carnaval sem apreciadores, apenas com figurantes, sem os foliões que dão alma, ânimo e vibração à festa.
Esqueceram-se de que o apoio que advém do Governo é pago com os impostos que são oriundos dos bolsos de todos, independentemente do seu papel na criação da festa. Ouvem-se ameaças vindas lá de cima: até quando continuará o Ministério a financiar um evento que sequer se pode ver? Benditos sejam os emigrantes que contribuem incessantemente para apoiar a causa com uma generosidade incansável.
O que seríamos de nós sem eles? De onde viria tanta comida nas ‘salas’ sem este querido apoio? Estas gerações ainda o fazem de coração, pelo amor, pela tradição. Mas a este andar, corre-se o risco de que as vindouras, tanto na ilha como na diáspora, não venham a saber o que, de facto, é viver e sentir o Carnaval de Ribeira Brava.
Por: Dylan Renato da Graça Cabral
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